segunda-feira, 19 de julho de 2010

A definição de Bacharelado Interdisciplinar, de acordo com a própria UFABC

Olá!
Estamos falando tanto em interdisciplinaridade e, observando a agenda da própria UFABC, encontrei um texto na parte de "Projeto Acadêmico" e que versa sobre o assunto:
"A interdisciplinaridade é a essência do projeto acadêmico da UFABC. A opção por esse conceito se baseia no reconhecimento de que os avanços na ciência e na tecnologia passaram a exigir uma reformulação do modo de se adquirir conhecimento. Apenas uma formação assentada em uma sólida base científica pode permitir que o profissional moderno se adapte eficientemente ao que dele se exige.
Parece que estamos entrando em um tempo em que o especialista vai se tornando um profissional com horizontes restritamente operacionais, ou seja, apto apenas a realizar atividades mais ou menos rotineiras e, em muitas situações, supervisionada por pessoas com visão mais abrangente. Nos casos em que a especialização não se baseia em uma formação científica e metodológica mais ampla, essa é uma realidade inevitável.
As tecnologias aparecem e se tornam obsoletas com tempos de prevalência cada vez menores. Em consequência, as habilidades especializadas que o profissional adquire no seu processo de formação costumam ficar desatualizadas e quase inúteis muito rapidamente. Nas áreas mais dinâmicas, como por exemplo, geração de novas tecnologias, apenas os profissionais com formação científica muito sólida e interdisciplinar são capazes de se adaptar eficientemente às exigências do mercado de trabalho.
Em uma era na qual o conhecimento avança tão rápido, os cursos superiores têm de ser suficientemente flexíveis para que o estudante tenha, por um lado, a oportunidade de reorientar sua trajetória acadêmcia e, por outro, cruzar as fronteiras tradicionais das disciplinas, se preparando para atuar em problemas cada vez mais temáticos e menos disciplinares. É a superação desse desafio que a o UFABC oferece como caminho aos seus alunos".

O que eu gostaria de comentar pode até se tornar uma problematização com uma resposta que viria em questão de anos, e não de meses: estamos vivenciando esse projeto inicialmente como "cobaias". Tudo é muito experimentado e não temos a exata noção do tipo de formação que teremos. Acho isso interessantíssimo, pois somos pioneiros nesse tipo de abordagem social e econômica. Social porque, como o próprio texto diz, a tendência do mercado, até um tempo atrás, era a de tornar o profissional cada vez mais específico. Para os que não buscam um questionamento muitas vezes de si mesmo, é um ótimo caminho, pois assenta-se a comodidade. Mas como um engenheiro hoje pode realizar um projeto -uma hidrelétrica, por exemplo - sem pensar nas implicações sócio-ambientais, além do lado econômico? Vejamos que, nessa afirmação, já temos três tipos de problemas a serem visualizados por um único profissional: social, ambiental e econômico. E podemos afirmar, hoje, que a área social é algo relacionado apenas à área de humanas, que a ambiental é apenas biológicas e a econômica é apenas voltado para a parte de finanças? Todas essas 3 áreas, em um único tipo de pergunta, englobam muito mais do que a visão dos profissionais especializados conseguem visualizar. Para que se tenha uma visão ambiental, devo conhecer de que forma as obras podem afetar no meio ambiente em torno disso, se é uma solução que provocará um impacto muito grande no rearranjo do ecossistema local, além da legislação que envolve esses e outros problemas. Em social, seria ideal realizar um estudo de caso de como a sociedade interage com o meio (já temos o primeiro dos inúmeros "links"), como isso poderia afetar a sociedade ribeirinha, o deslocamento que isso ocasionaria de populações para um outro local, a quantidade de espécies que entrariam em extinção, além da econômica, que vai ser a viabilização do capital em relação a todas essas ações, o que será compensatório financeiramente ou será muito custoso (não podemos nos esquecer que vivemos em um sistema "capetalista" heheh).
A visão que o futuro nos proporciona é algo extremamente promissor. Esse tipo de pensamento já começa a aparecer nos problemas das empresas de hoje. E nas de amanhã? Eles serão solucionados? Será que toda essa relação interdisciplinar não provocaria um inchaço educacional em busca de mais profissionais especializados em uma determinada área nova que surge ou os profissionais interdisciplinares ocuparão estas vagas?

7 comentários:

s disse...

Um curso que forma profissionais para um mercado desconhecido, onde tudo muda rapidamente e que a capacidade de atualização e flexibilidade são fundamentais. Acho que a indefinição embora preocupante abre um leque imenso de oportunidades para a construção de coisas novas, inteligentes, sustentáveis, econômicas e sociais. Vivemos na era da eficiência, não aquela velha, em que a maximização dos lucros apenas era o que importava, mas uma nova, onde lucros, respeito ao meio ambiente e ao ser humano serão pilares para a construção de uma sociedade melhor.

Rogerio dos Santos Munhoz disse...

E que lucros são facilmente associáveis ao respeito ao meio ambiente. Podemos citar o exemplo da Natura, que se aproveitou de toda essa onda envolvendo a sustentabilidade dos recursos naturais e, com isso, lucrou MUITO e chegou a ser uma S/A dentro deste contexto. Isso gera desconto em impostos, proporciona uma imagem muito mais bonita a uma sociedade cada vez mais encurralada no canto da parede "A NATUREZA ESTÁ CONTRA O SER HUMANO E ESTAMOS EM UMA SITUAÇÃO LIMITE".

João Danilo disse...

"A visão que o futuro nos proporciona é algo extremamente promissor." E se acabar não sendo? Se as empresas "capetalistas" continuarem a dominar o mercado de trabalho? Onde que vai ficar o aluno interdisciplinar? Para onde vai tantos impostos que foram investidos para a construção e realização da universidade?!

Rogerio dos Santos Munhoz disse...

Como eu disse, é algo que é promissor, ou seja, que "promete" ser algo muito bom. Esperamos que seja. Como eu disse, o risco que corremos é o de se provocar o inchaço das instituições de ensino com cursos voltados para as especificidades que o mercado colocará. Corre-se o risco de termos mais FATEC´s, por exemplo. Espero que esse futuro promissor se confirme de acordo com o tempo. Agora, como saber isso? Talvez entremos em um loop infinito em busca desta resposta. Os riscos apresentados pelo João realmente são válidos para uma reflexão.

Raphael disse...

Estou achando que a Taty está muito pouco participativa no blog...
cadê as postagens dela?

Rogerio dos Santos Munhoz disse...

Pelo contrário, sr. Raphael!
Vide post acima

Raphael disse...

Hahahaha, agora sim!
vou ir questioná-la...